Taça de Absinto
Esta poesia não faz apologia ao consumo de bebidas alcoolicas: é uma metáfora. A Taça é a boca, e o Absinto são as palavras.
Transborda esta taça vertendo absinto...
Sorve em beijos depois que torrões adocicados
São banhados de águas salinas que refletem o que sinto
Com estes teus lábios rosados delicados,
Dispensam qualquer um de tantos predicados...
Embriaga-te, pois e dança acima das nuvens...
Ou abaixo nos profundos abismos infernais
Absorve-te da Fada Verde sedutora em desdéns
Cujas danças atraem em movimentos abissais,
Causando visões translúcidas boreais...
Á saúde com outras taças tilintam agudas
Do fino que é rejeitado por cegos apáticos
Em pequenas doses em bocas bicudas...
Em grandes goles sem medo dos sintomas hepáticos,
Até que os olhos dilatem e tornem-se estáticos...
Entontece-te e entrega-te às imagens retorcidas
Que pouco a pouco deixam de ser retrato surreal
Percebe-te a epiderme rasgando-se sendo rompida
Como a virgindade rompe-se em ato sexual,
Despe-te... Revela-te... Numa realidade sem igual...
Sinta o fel em gosto amargo no interior da taça
Sinta o doce do primeiro gole molhando o céu
Embriagado saia na chuva e brade em meio a praça:
Meu regurgito também pode ter sabor de mel!
Assim conclui-se ao precipitar o último escuro véu...
Espanta-te ao ver saindo da taça como um gênio
A Fada Verde que como vômito causa torpor
Despe-se da casca e revela-se: Eis seu prêmio...
Derrama-se em tantas taças que engolem dor...
Outras engolem néctar com suave odor...
Para os servidores subordinados da cegueira ditadora
Embriagues viciante que merece severa punição...
Para os desencarcerados cegos pela luz reveladora
Que lhes ilumina o caminho mesmo ainda que em prisão,
É trampolim para um salto, é vôo alto na imensidão...
São Paulo, 26 de Janeiro de 2009.