Alma Sapeca
Lágrimas sanguinolentas
Que chora meu útero infecundo...
Minhas linhas de raciocínio lentas
Não cessam de refletir sobre o mundo...
E a alma em eternas tormentas
É que quer parir idéias emergentes do profundo...
Insistente complô entre alma e inspiração
Que me tira o sono, que me tira a fome,
Que faz subir estranha sensação...
Que me faz esquecer minha idade e meu nome..
Que me enche de tremenda convicção...
E a alma inquieta quanto mais vomita, mais come...
Esta alma devassa que copula com os deuses...
Que deseja ficar prenha nesse seu incansável cio...
Quer dominar e ter orgasmos várias vezes...
Que verte mel e lágrimas como um rio...
Frustra-se em não parir depois de meses...
Abandona a doçura e vira bicho arredio...
Alma que seu quadril convulsiona
Buscando o que lhe preencha as entranhas...
Para reproduzir sua obra se posiciona
Faz ‘caras e bocas’... Implora, faz manhas..
Quer ficar prenha e seu desejo de glutona
Vai buscando sementes que depressa abocanha...
Oh, Alma! Menina sapeca
Acalma-te um pouco, fique quieta!
Até minhas lágrimas bebe e meu choro seca...
Sossega-te não seja assim tão inquieta
Não vez que assim logo, logo peca?
Sossegue... Logo, logo te tornas poeta!
São Paulo, 22 de Janeiro de 2009.