Lo(u)comotiva

Lo(u)comotiva

Sua curta estrada sem intento

Sobre trilhos largos dormentes

Vaga o vagão passagem passageira

Ferro retorcido pó ferrugem.

Perece parece sem dono

Maria-Fumaça, não pita

Sem fogo nem cinzas

Que caminho iluminava olhos no breu.

Encruzilhado destino desalinho derradeiro

Descarrilou não serve mais

Ao desuso confinada estais.

Saqueados os bens suas virtudes

Vazia esquecida carruagem

Abandonada a mercê das estações.

De abrigo serve aos marginais

Aproveitam-se dos restos ao léu

Sinistro seu interior sombrio

Que de ervas amargas se encobriu

Esconde o que de bom já rendeu

O resto de valor pra sempre partiu.

No carril que se perde de vista

De que vale tê-los ainda

Se nem de pé nos trilhos está

Tempo passa ninguém fica.

Da covardia do tombador que a guiava

Locomotiva acometida de avaria

Tornou-se acomodação obsoleta

Seus vapores se foram Maria.

Nem fuligem suja a chaminé

Foi esquecida perdeu o valor

Descarrilou e sem serventia ficou

Ao prazer do tempo e vento

Seus restos ninguém reclamou.

A fuligem no ar dissipou

Quem saberá maquinista desertor

De abandono serviu sua Maria

Mãos, sujas pelo carvão, lavou

À fornalha, o fogo e lenha, negou

E a densa nuvem de fumaça abafou

Nem apitas Maria sua chegada

Se nem de partida seu agora se faz

Ao menos de abrigo nesse trilho jaz

Só quem sabe é o tempo que de ti se apraz...

Flor de Laranjeira
Enviado por Flor de Laranjeira em 11/01/2009
Reeditado em 10/01/2010
Código do texto: T1379861
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.