PAISAGEM MORTA

Chuva fina; eu na varanda,
Vendo o tempo passar...
Lá fora um louco anda,
Diz que o mundo vai acabar.

Para, me olha, me chama,
Mostra o corpo molhado,
Joga-se inteiro na lama,
Derrama ilusões por todos os lados.

Prova o fruto da maldade,
Sente-se o dono da festa,
Desconhece o nome, a idade,
O nada é tudo que lhe resta,

Levanta, segue em frente,
(In)feliz com a sua vida avessa,
Gesticula, balança a cabeça,
Tenta se libertar da serpente.

Que o espreita de perto, tirana,
Com a bífida língua ao vento,
Apreciando o momento,
Da fragilidade humana.

Dou meia volta, entro fecho a porta,
Tomo um café bem quente,
Logo o que vi, será paisagem morta,
E minha rotina seguirá tranquilamente.