SEM DESTINO

Pálido é o rosto que envelhece,
Sob o cinza da cidade,
A suave loucura lhe abastece,
Oferece a sensação de liberdade.

E ele caminha sem destino,
Respira o ar carregado de fumaça,
Sente-se um herói de sangue latino.
Ignora o tempo que passa...

Para no centro da praça,
Sobe no coreto, sorri, canta, grita,
Declara-se o cristo redentor,
Estende os braços e agita,
Um surrado cobertor.

E fica assim por alguns minutos,
Depois desce e retoma qualquer direção,
O olhar já não é mais absoluto,
Já na há acenos de mãos.

A sombra cansada aponta,
Para um amanhã que pode não acontecer,
A alma brinca de faz de conta,
Um desalinho envolve o não ser.

Céu nublado – cai uma chuva fina,
Sobre as rugas do velho em desencanto,
Que agora segue calado, dobra a esquina,
Com o rosto molhado pela chuva e pelo pranto.

... Será que houve uma lucidez repentina?