Onírico
Sonhos meus? Já não os tenho.
Perdi quela esperança pueril
que se abrigava nos braços doces
de meu olhar lânguido.
E aquela noite jurada de displiscência,
de amor vão e cansaço, e morte?
Se foi. Nasceu morta.
E aquele esgar de gentileza,
aquele riso macio que se esgueira
pelos cantos da boca, como um gatuno?
Hei de morrer sem tê-lo a dançar
em meus lábios secos.
Tenho somente a desconfiança em meus
calcanhares rachados, exaustos,
e a frustração dos inúteis,
dos que servem para curar os males
alheios e estranhos, mas que,
extraordinariamente atados,
não se bastam para seus vãos
escancarados e vagos.
Mas, ah!, ao inferno com lamúrias.
A culpa é tão somente minha
por estar desacostumado a esse
lusco-fusco de minha vida,
a essa inescrutável lógica...
Inescrutável e irresistível.