Devaneios II

Meus delírios não são para os brancos;

não são para os limpos;

não são para os finos,

pomposos e recalcados,

para os rechonchudos

e bem-amados burgueses,

de sagacidade tão inócua.

Meus gemidos são para os loucos,

para os argutos e rotos amantes

que se tomam em vielas sujas,

tão sujas quanto suas bocas ansiosas,

das quais brota a augusta essência

do prazer dos vazios.

Meus sussurros não são para os santos,

para os puros, para os ingênuos;

são, antes de qualquer coisa,

vis imprecações, raras iguarias

a serem degustadas à miúde,

com grande parcimônia,

como fazemos com o vinho amargo

que nos ajuda a engolir a dor,

esse pão nosso de cada dia.

Meu pranto não é para os que querem,

mas para os que o mereçam.