Hiatos
Ando com os olhos pregados ao chão
que mal posso sentir as palavras
ou ouvir o silêncio.
- Que seria então se não fosse triste?
As dúvidas atormentam-me.
O torpe me embala.
Aflige-me, por lascívias...
a carne, os humores, o vapor, a fermentação.
Anestesia.
Tão mortal e tão fugaz.
O que era um salto é apenas adormecimento.
Uma dor, uma prostração.
Os sentidos esmagados e uma alegria rota estampada no rosto.
A cólera e a lassidão, o esmorecimento.
Os laços tênues. E a ânsia secreta.
Animadora... por nada. Sempre por nada.
E desde quando acredito em sonhos?
Esses balões vagos que me levam... elevam-me... alheia a tudo, deixo-me.
Flutuante. A dor agora tem esse sabor ambíguo.
Enleios. As notas soltas. A suspensão.
De hiato em hiato transbordo-me.
...
...a espera indecifrável...
...
A corrida desordenada orientando a fuga.
Os campos vastos e a loucura de permeio...
Resta-me apenas essa dor sem nome.
O silêncio vagando roto.
A exclamação. A dúvida. A dádiva?
Os intermináveis mistérios...
Essas horas em que o vazio é o único espaço.
Em que tudo e nada é possível.
A conjunção. Nunca o desfecho...
A dor arrastada...
Sem tréguas.
- meu tempo é quando?
Não há mais enigmas, castelos enluarados
E eu, ainda assim, tão vaga...
A viver o ontem que não ruiu.
Quero então uma prece de esquecimento
Quero água que lave
vento que leve essa dor
Peço paz pra viver essa solidão
Água pra curar essa sede
Luz pra redimir a escuridão
- E se não houver ninguém para ouvir o grito?
Ecos
Vazios
Sombras
Silêncios.
Às vezes estou tão ontem. Outras além.
Hoje? Não estou.