De joelhos
Eis-me aqui...
Como um canto apenas adormecido
Palavras recém-nascidas na boca
Uma cor apenas sentida
Um vapor assim tão barato na pele
Uma luz que me chega óbvia
O calor ansiado e triste
A face desnuda, o sorriso contido
Eis-me aqui...
Como quem ousa uma prece
Como quem roga e não crê
Uma rosa de sete faces
Um fogo de mil perdões
Eis-me...
Chorando como quem ama
Correndo por caminhos descalços
Pisando flores mortas
e desatando pétalas vãs
Eis-me aqui...
Como um sereno frio
Um grito abafado
Ou um suspiro no escuro
Como uma folha em branco
rosa vazia
Como verso que se anula tímido
Como palavras que se contradizem
Como o que se perde, o que se esconde.
Transparente, insípida
Como água-ferida
Em sua graça malsã
Um sorriso benfazejo
Uma borboleta que se perde no asfalto
Como ferida, partes e retalhos
Como uma febre, um retrato ou um rabisco
Palavras, que de mais a mais,
se intimidam
e se viram do avesso, e voltam a si
Como, intangível e áspera, silencio.