Rastros
Difícil dizer o que trago em meu peito.
Ausência de vida?
Ausência divina?
As palavras me silenciam, me vagueiam, me rarefazem... descolorida.
Como cor desbotada pelo sereno, pelo medo sem fim, pela coragem sempre bamba. Adormecida pelas palavras tristes e silentes.
Na noite sem sonhos.
No grande vazio que se pinta a noite. Abóboda intocável e calorosa.
Tocada pelas palavras fundas, mas sempre rasa.
E insossa.
Como algo que não se tem; como vida que se vagueia.
Como silêncio que se refaz, imune.
Uma dor que se hasteia. Manchada.
Porque não há mais nada.
Jaz, e não há mais nada.
Nem um brilho, um rito que se deva manter.
Uma pausa que se queira sustentar, um grito a suspender.
Nada. Nem a verdade pura e simples.
Nem a ganância disforme e pálida.
Uma vida que arde e se cansa.
Uma vastidão que se alastra e devora.
E inflama.
Consumida por um fogo morno.
Uma brisa tênue.
Uma cor opaca e pueril. Da qual se riem.
Palavras cansadas e rotas.
Palavras que se calam e engolem a si mesmas.
Doentes e frágeis.
Pensamento que se chega como um passo atrás, um passo em falso, que se perde de si mesmo.
Uma folha em branco e rasa.
Superficial e mutável brisa.
Como mão que acena e não vêem.
Como sorriso que chama e não notam.
Como grito que se lança no absurdo sombrio.
As palavras me silenciam.
E não há mais nada aqui.