Poesia do cansaço

Quedou-se cansado dos outros meros mortais,

Os quais entoavam ditirambos ardentes

Que mais se assemelhavam a cadentes De profundis

Isquêmicos e fúnebres.

Enfim, humanos.

Quedou-se entediado da volatilidade insolente

Do mundo, da mente do mundo

E tudo

Dos homens e seres mundanos

Jazeu, por segundo, estático e buliçoso

A mirar a vida miserável no lugar

As longas e medíocres estradas pelas quais seus destinos rumavam

Desatinados, crentes em risíveis rumores

Sentia-se sobre-humano e imortal

Intocável, irreal.

E pisava sobre tudo

E encimava tudo

Tudo e toda a balbúrdia irrequieta sintetizada por falsos homens

Que eram em verdade saloios.

Jactou-se da sua inteligência

De seu indiligente poder de controlar e manipular

Garboso de sua superioridade

Distante da ordinária existência humana

Agora não só mais da inteligência se vangloriava

Mas também, e principalmente do seu novo reflexo.

Frio sem sombra

Cruel sem dor

E do seu não-sentir. Do seu não-amar.

Quedou-se se olhando no espelho

Espelho esse que refletia seu novo ser

Engrinaldado pelo semblante masoquista e sádico,

Outorgando suas renovadas alma e aura,

Apontando no cachaço a veia túrgida,

E indicando a fictícia incisão cirúrgica

Do lado sinistro do peito.

Joao L Terrezo
Enviado por Joao L Terrezo em 10/11/2008
Código do texto: T1276512