VERSOS TÓXICOS

Bebi uns versos que pareciam estar contaminados

E acabei me engasgando com versos metrificados,

Não tinha visto que eram decassílabos,

Depois não parei de tossir rimas forçadas

Fiquei com soluços depois por causa de umas palavras

Eruditas e escondidas do dicionário de português arcaico.

Hematopoiese! Hematopoesia?

A medula é uma poetisa?

Quanta bobagem!

Corre hemato no hepato!

Queria que seu fígado fosse só meu!

Mas não era o coração?

Alguns versos metrificados

Lesionaram meu fígado,

E agora estou com uma versorragia!

Outros versos ficaram boiando

No suco gástrico e acabaram encontrando

Algumas ilhotas de Langerhans no pâncreas pra descansar!

Como vou me curar?

Recomendaram-me uma solução de Poetrix 30%,

Dizem que é leve, desce suave e acaba com qualquer mal,

Inclusive intoxicação com rimas forçadas,

Alivia também contra o Lirismo Comedido e Lirismo bem comportado,

Como já mencionou o poeta Manuel Bandeira, afinal ele sabia bem como evitar

Esses males literários que nós estamos sujeitos a encontrar.

Depois de estar livre desses males,

Fumei um pouco de Modernismo

E bebi uns copos de um vinho de ótima safra dos tempos de Fernando Pessoa,

E me mantenho bem longe de certas misturas

Como Ultra-Romantismo com Parnasianismo.

Miguel Rodrigues
Enviado por Miguel Rodrigues em 22/03/2006
Reeditado em 22/03/2006
Código do texto: T126848
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