O Circo
É hora de sair da chuva,
entrar no palco:
- O espetáculo começa!
Pintar o rosto,
vestir a máscara.
- O clown entra em cena.
Falsear o riso,
suspender o pranto:
- A platéia chega...
Fingir-se casca,
Superfície...
Resguardar a semente,
fugir-se, calar-se e sorrir-se.
Riso falso – fantasia – riso lata.
Cores. Maquiagem. Fuga.
Superficialidade.
- E o show se arrasta...
Prossegue doendo.
A vida se vai descortinando em cenas,
em brasas...
Ilustres cenas,
de ânsia e asco,
de falsidade...
Cena que enoja,
enjoa, irrita, amarga,
arrasa, se cansa.
- E a platéia passa,
se ri, se encanta!
- É casca, é pó.
- É mais máscara. É sombra.
Confunde-se com o artista...
O palhaço, em seu âmago, chora:
-É isso a vida?
-Vida-palco? Vida-ilusão?
Em seus devaneios, o palhaço treme...
- Ser fantoche dói...
As horas passam...
Arrastam-se, pontiagudas...
As luzes se apagam...
Cortina se fecha...
O palhaço, em seu alívio, foge...
Escapa desse submundo...
Volta para a vida...
E o espetáculo se encerra?