Os versos pularam o muro
Não é fácil viver em um mundo todo metálico
Saltitando de alegria em meio às tantas falsidades
Embalado pela ameaça atômica e suas atrocidades
Só com os nossos sonhos acalentando a igualdade
Numa simétrica fragilidade insana de seus átomos
Deslumbrantes e macabros à espera de uma jugular
Constantemente dissonantes sedentos como vampiros
Somente a morte nos garante a própria sorte no espirro
Num lugar onde o céu não é escasso desde o sul ao norte
Onde a esperança vence todas as dores e cansaços
E as palavras ressoantes soam como abraços
Não desfaz os frágeis laços humanos e seus traços
Engolidos, vilipendiados, jogados como bagaços
Onde todos os anos o mesmo ritual é encenado
No especial do 'fantástico' para uma platéia hipnotizada
Resume-se ali o ônus que o ânus levou no ano vencido
Dos andarilhos mal lavados, vítimas da própria miséria
Pagam por sobreviverem nesse mundo mal e perverso
E aqui, os Grandes por valer-se de seus domínios
Achincalham e cospem como hienas as suas mentiras
Sempre pelas ondas do rádio de uma caluniosa emissora
Não se submetem ao cheiro fétido de suas próprias almas
Da miséria encarniçada, parida, produzida e alimentada
Em programações maldosas nas caladas das madrugadas
Ah! Quantas tristezas vêem ali sendo ofertada aos inocentes
Pela lei do mercado poético... Explorador do mais fraco...
Onde até o amor é objeto apenas simbólico e metálico!
No vai e vêm constantes das reles e malditas hipocrisias
Num mundo de metas inválidas... Falta lugar para os poetas
Imagina-se que até Deus se envergonhe pelos seus profetas.
Dueto: Elisa & Hilde
Inspirado no poema ‘O verso que saltou do onírico’ da Elisa Matos Menezes