O corpo e a mente
Dois olhos inquietos, mas semicerrados,
Se aliam a dois ouvidos, desesperados,
Em busca de um sinal.
Quer seja um sonho ou uma tentação infernal,
Tenho que saber onde e como acaba.
Teimosa mente, coisa brava,
Não me deixa descansar.
Me recrimina quando sossego um segundo,
Como se fosse acabar o mundo,
Se eu não escrever o que ela ditar.
Os dedos frios tremem,
A carne, já está cansada...
Mas a mente, não liga pra nada.
Está satisfeita em trabalhar.
Recebeu a visita da musa, mas sou eu que pagarei.
A manhã que chega, vem com a certeza:
Sim, trabalharei...
Enquanto a desgraçada, descansa.
Quem não a conhece tão bem,
A imagina mansa,
Não uma artista histérica a gritar.
O fato é que corpo e mente não se entendem.
Ela não quer parar, ele está exausto.
Ela adormece enquanto ele cameleia.
Enquanto ele lida, ela permanece alheia.
Corpo e mente, unidos mas a se afastar.
Talvez seja minha culpa, afinal
Essa rivalidade descarada e evidente
De dia zomba o corpo e a noite se cobra a mente,
E no meio desta luta, estou eu a me arrebentar.
Como ser duas, se sou uma só?
Quero gritar, desfazer-me em pó,
Se isso servir pra discussão acabar.
É coisa de louco, de insano, de tampinha,
Uma vida como a minha!
Unida e dividida,
Entre o corpo e a mente
Que nunca param de brigar!
Nem por um segundo fazem as fazem as pazes
E nem pensam em se reconciliar.