DIÁRIO DE UMA LOUCA

DIÁRIO DE UMA LOUCA

Depois de cuspir na caipirinha

Onde trabalhava e que fazia,

Derramei-a e ao gelo picado pelo chão.

Saí gritando às ruas

Vestida de verdades,

Seminua de piedades,

De destinos nua.

*

Eu sou Camélia

A dama das tetrálias.

Já que nenhum ouvido me fecunda

Vou menstruar meu discurso:

Venha ver seu feto mais lindo...

Dói-me a costela,

Seu porco espinho.

Viva a pátria nacional e a internacional.

Já podeis da pátria párias

Adotar outro Brasil.

Sou Isaura, a menos dentre as escravas

Sou Chica, a mais rainha delas.

Estou cansada.

Vou para Nova Iorque

Ver o cinema mudo.

Vou ler inglês e japonês.

Estou de TPM, vou menstruar meu discurso:

Meu homem está em falta;

Na festa das vaidades.

Salve a tropa! Coletivo de burros.

No dia da vitória arrastam as suas bostas.

Medalhas de guerra, não no peito,

Carregam-se nas costas.

Porta-bandeiras do meu reino,

Saxofone e pandeiro.

Minha cara na moeda

Diz a quem é o dinheiro.

Vou sapatear aleluias,

Corre atrás das tanajuras,

Juro que amo você...

Pai da beleza.

Quero andar de bicicleta,

Tenho frio, frio é triste.

A ponte que liga o monte ao horizonte

Derrama no rio a correnteza.

Buzinas e sirenes no asfalto,

Meu cachorro atropelado.

Urubu eu sou, acorrentado no Cáucaso.

Padre Santo, Ave Maria

Do Filho, do Espírito Nostro,

Amém!

Vou bater em você,

Dá-me de comer.

Estou molhada, melhor que com sede.

Sou Carmen de Bizet,

Sou a cega de Chaplin.

Quero queijo e torresmo.

Quero ver o meu seio.

O Presidente Lula votou em mim

Para presidir a pobreza.

O sapo beijou a princesa

E sapos viveram na lagoa do sempre

Fazendo sapinhos na boca.

Airton Senna brincava na ladeira

De corrida de xixis?

Tenho sono e não sonhos.

Vou dormir aquém de mim.

*

Tirei do saco minha touca de meia,

Deitei-me num papelão de estrelas e meteoritos,

Cobri a cabeça, as orelhas e os olhos.