QUALIDADES ERÓTICAS DE SALIVA!
Ernesto Guerra da Cal, professor e poeta,
estudioso do Eça,
foi nado em Ferrol (19 de dezembro de 1911).
Amigo de Garcia Lorca, exiliou-se
acabada a guerra “incivil” de Franco e outros militarões
contra a República espanhola e os Povos que por sorte
ou dessorte nela estavam. Foge
e acaba ministrando aulas na Universidade de Nova Iorque.
Reformado da sua Cátedra, passa a viver no Estoril de 1977 a 1989,
que se muda para Londres.
Volta a Portugal e em Lisboa morre
aos 82 anos de idade em 27 de Julho de 1994.
Foi presidente da COMISSÃO
PARA A INTEGRAÇÃO
DA LÍNGUA DA GALIZA
NO ACORDO DA ORTOGRAFIA
UNIFICADA.
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Datado em Londres, 30 de outubro de 1990,
publicou um poema,
de título «Conhecimento»,
cujos últimos versos
dizem:
«O bom Rabi castelhano
(e tão humano)
era experto em qualidades
eróticas
de saliva!»
Refere-se ao don Sem Sem Tob
ben Ishaq ibn Ardutiel, Rabi de Carrión
(1290?-1396?) de los Condes,
no caminho misterioso de Santiago,
talvez também erótico
por aquilo da Via Láctea, e nos anos
em que Pedro I, el Cruel, coetâneo
de Pedro I, o Cru, foi assassinado
pelo irmão bastardo,
Enrique, el de las Mercedes...
O poema do professor e poeta Guerra da Cal
comenta dous versos do Rabi:
«Hallé boca sabrosa,
saliva bien templada.»
Que vale tanto como dizer que o don Sem
achou boca saborosa e saliva bem temperada.
Entendamos: boca doce de mulher
e beijo de umidade libidinosa.
Mas podemos inferir desses dous versos
o que o poeta ferrolano
nos anuncia com lirismo sem par?:
«... boca de mulher
que a partilhar nos convida
do suco do íntimo ser
da sua Maçã proibida»?
É que do beijo da mulher sempre deve,
o varão, tirar a consequência, para ele grata,
de que generosa e lasciva lhe oferece,
fonte de águas limpas, matar a sede carnal
na Maçã do pecado sem-pecado?
Não será que, arrastado por fantasia torpe,
o varão se mergulhe em prazeres apenas
imaginados, sem quase fundamento “in re”?
Tem cérebro tão impenitente
que, só com passear o desejo sonhado
por sobre a boca e a língua femininas,
sofre do tesão
masculino?
Vai sendo hora de que o varão tome
consciência de que a saliva sempre é úmida
e de que a mulher sempre possui boca de lábios frutais.