CONSELHO OU POÇÃO
Prefiro a realidade do sonho, das palavras
impossíveis, das que são flores e frutos
saborosos. Mas tenho a realidade do possível,
que faz impossível o sonho, e prende de
tristeza os corações das palavras todas.
Ainda bem que tenho a receita da poção
mágica.
(PoetaGalega para o texto: PALAVRAS
NÃO SÃO PALAVRAS [T1176416], em
13/09/2008 19:10)
Diz Poeta Galega (e eu entendo-o conselho):
«Prefiro a realidade do sonho...»
E tenho de lhe dar por bom o dito
e o conselho, por ótimo e cabal.
Gritavam aqueles do maio celebrado
(não o lembrarás porque ainda
navegavas nas águas das lembranças
não acontecidas...):
«Soyez réalistes,
demandez l'impossible», quer dizer,
«Sejam realistas, exijam o impossível.»
Que eu traduzo: «Sejamos pessimistas,
tornemos possível o impossível, porque
podemos!!»
Que realidade mais real
do que os sonhos?
Haverá alguém tão
incrédulo que negue realidade aos sonhos
reais?
Também gritavam: «L'imagination
au pouvoir.» Que vale tanto como exclamar:
«A imaginação ao poder!»
E que é o que
fazemos poetando?
Não obrigamos, palavra
a palavra, como se fossem tijolos,
um sobre outro, a imaginação a praticar
leve e suavemente milagres tão perfeitos
que passam despercebidos?
A vida continua,
sim, mas não segue igual:
O encadeamento
de atos e sentires vê-se maravilhosamente
perturbado depois de poetas elevarem
aos céus intranscendentes as suas palavras
mágicas...
Olha que também as tuas
soam e ressoam acariciadoras ante
a caverna dos tesouros (sem ladrões):
«Abre-te, Séssamo!» E não advertiste
a boca escura da cova se abrir amável
ao reclamo da tua voz lírica? Sem
dúvida, sem nenhuma dúvida, Poeta.