CONVERSEMOS, CONVERTAMOS

Não sei em que obra de teatro

William Saroyan, californiano (nos USA),

escritor de fama e, antes, filho

de pastor presbiteriano, mas cedo,

aos dous anos, órfão, faz

com que um personagem,

ao dizer “árvore” (em inglês “tree”,

mas acho que tanto teria

nomear árvore numa língua qualquer),

então,

nesse momento justo,

nesse intre,

a árvore do cenário deve iluminar-se

(e de facto é iluminada)

precisa

como sorrindo ou como grata por ser

tão carinhosamente evocada... Assim,

leitora amada, leitor amável,

somos todos os poetas, os pretensos,

como eu, e os felizmente poetas,

como sem dúvida tu, leitora,

e tu, leitor, todos vós,

que me compreendeis e consentis

com a criação dramática do lírico William...

Dramatizar a criação, recriar

a criação, apresentar de novo o de antigo

apresentado (isto é representar, dizem),

a essa atividade imponente reduz-se

a nossa aspiração a ser poetas: Deuses

pequeninos, crianças de deuses quase

sem nome... Nem Júpiter nem Shiva

nem Odim... Quase diria (se não fosse

blasfemo) que nem Iavé nem Alá

nem sequer o Deus dos cristãos

que parece como que é mais Deus

no mundo ocidental, talvez por ordem

dos governos, são tão deuses

quanto os poetas de toda a caste:

Nós criamos, recriamos a verdade

que por toda a parte aqueles governantes

procuram suprimir ou ao menos diluir...

É a nossa agradável (e dorida) sina.

Portanto, conversemos líricos:

Convertamos as palavras no vinho

da alegria ou da dor ou das angústias

desmedidas ou, simplesmente,

digamos "árvore" para que as árvores

reais ou fictícias fiquem banhadas em luz.

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Sobre W. Saroyan:

http://www.williamsaroyansociety.org/works.html