POETA

«... feitas as dores rumores longínquos de tormentas de verão.»

(PoetaGalega “Fim do Verão”)

Foi pergunta repisada: «Que é poesia?»

Melhor sentido tem outra pergunta:

«Que dianhos é ser poeta?»

Elevo aos céus

esta questão endiabrada...

«Que, poeta?»

E topo-me, sem eu as procurar, com vias

estranhas claroescuras, que no lusco-fusco

me trasferem a lugares lindamente amenos

e a sítios duvidosamente sombrios

e a gentes amáveis nunca imaginadas...

Vejo máscaras a descobrirem a natureza

real do mascarado: Não é varão, é mulher,

mas não parecia ...

E observo, confuso,

rostos belos e corpos nus e pernas

formosíssimas que me seduzem

e nem sei bem por quê...

Aproximo-me...

Será o bosque que nos abraça

ou os rumores das águas a passarem

rezadoras aos deuses cristalinos do amor,

ou, quem sabe...

E fico seduzido, extático.

Talvez influam as tormentas do verão, sufocantes,

cheias de rumores abafadiços, que impedem respirar

com liberdade e afligem os espíritos aterrados, como boa,

como jibóia estremecida de amores (ah, adoro esta frase!)

impiedosos, se é que as cobras durante o verão fossem capazes

de amar até ao extremo feliz de esvaecerem

esganadas pela tortura de amar.

................................................................. Será tal ser poeta?