VÍSCERAS NA MÃO !

VÍSCERAS NA MÃO!

(Poet Ha, Abilio Machado. 010207)

Minhas dores

escorreram nas lágrimas

a insanidade me doía

o peito aberto

o coração dilacerado

minhas vísceras

pra que serviam?

Queimavam.

Uma forma ainda não vista

minha vida doravante

estava proibida

A mim!

Meus dedos adentravam

minha carne viva devorada

eu pleno

via os animais

eu que me julgava

o mais valente

o mais esperto

o mais tudo

era devorado aos poucos

pela escória dos animais

Minha cova nem foi túmulo

Foi valetão de um fim de vila

Minha oração?

Nem tive tempo

os monstros me sapecaram

ouvi apenas um grito:

_Ajoelha para morrer cachorrão!

Lembrei dos meus belos dias de menino

da minha fase de criança

das birras de jovenzinho arrogante

me vi insurgido pelo fascínio

de ser mais um

de não ser careta

de me ver olhado e temerizado

e agora me vi acabado

neste sonho não sei se fui

ou se vivi

só sei que minhas mãos dormentes

seguravam elas, as vísceras

escorregadias ao chão!

Cadê a mão?!

Mão... Mão... Não!