Cavaleiro-mor

Você cavalga o hipopótamo através dos tempos

Mas mesmo a porta da sua casa você não logra trespassar

Levanta, Quixote! gritam os alienados ao seu redor

Mas você não dá ouvidos, é claro, cavaleiro-mor!

Sua pretensão é natural, mas não visceral

Ainda assim você ridiculamente monta o correto animal

Falta-lhe a armadura e a espada

Que não lhe fazem falta contra moinhos de vento, cavaleiro-mor!

Falta-lhe ironia

Mas você não ri

Falta-lhe garbo

Mas você tem pressa

Falta-lhe loucura

Mas você tem o conforto

Faltam-lhe vísceras

Mas seu estômago é cheio de miúdas idéias

Falta-lhe um cavalo

Mas você tem um animal melhor

Não é...

Cavaleiro-mor?

Para que tanta coragem, se o monstro é tão débil?

(Mas sua vista não te engana, claro!)

Para que tanta corrida, se o inimigo está logo à sua frente?

(Mas a vitória fácil é ilusória, você bem sabe!)

Continua e não ri!

Continua e não gargalha!

Continua e não corteja!

Continua e não brinca!

Continua e não sobeja!

Continua, ó Cavaleiro-mor!