Poesia antropofágica 2

Poesia antropofágica 2

Pois é...

E agora? O que faremos?

Viu o que me fizeste?

Estou do avesso, músculos contrários e órgãos expostos.

Olhe aqui, veja, meu coração ainda em labuta

bate descompassadamente enquanto choras lágrima obtusa.

Minhas unhas cortam-me de forma lasciva e torturadora,

meus cabelos me incharam o crânio

e agora eu me conheço mais do que antes.

Estou me vendo por dentro e não é como você me descreveu.

Não vejo nenhum traço de maldade,

muito menos podridão.

Tudo que eu vejo é uma epiderme enrugada e estriada,

esta pele foi a mesma que te saciou.

Você prometeu me amar de qualquer maneira

e agora? Consegue amar-me?

Eu sim te amo, mesmo estando espalhada pelo quarto,

mesmo tendo banhado os nossos lençóis de sangue rubro.

Eu quem deixou-te assim

e não adianta tentar discutir

nós dois nos destruímos da pior maneira possível.

Não é crime passional,

pois sem você, eu preferia a morte!

Também não é doloso,

pois as chagas são resultado das deselegâncias.

Esquartejei-lhe por amor,

por ânsia de tê-la comigo.

Comerei teus membros para que não saias de perto de mim,

e deixarei sua cabeça para admirar o mal que me provocastes

e até talvez,

para dar-lhe um beijo de boa noite.