LOUCURA & LONGITUDE
LOUCURA & LONGITUDE
Juliana S. Valis
Quantas palavras caberão
Nos vendavais no mundo ?
Quantos fragmentos de emoção
Perderam-se no cais profundo
Dos sonhos únicos que se vão ?
E se não tem coração o silencioso tempo,
Como descrever a luz do crucial momento ?
Se louco, o pensamento não nos diz mais nada,
Como ser feliz nessa insana estrada
Que a vida brada, sem olhar pra trás ?
Ah, quisera o mar transbordar um riso,
Enxugando as lágrimas dos dias roucos !
Mas o que fazer do sonho mais preciso,
Se o mundo é uma fábrica de tantos loucos,
E o nosso coração se dilui, aos poucos, no vagar da paz ?
Não, não basta olhar a superfície vã
Da loucura atroz na realidade humana,
Como se a razão fosse "espiã"
Da dor que verte e não se engana
Pelos labirintos do amanhã ?
Se você não sabe o que é profundidade,
Então como definirá o mais insano e vil
Resquício que a matéria invade ?
Não, eu não sei de que hospício fugiu
Sua cara e pseudo-normalidade...
Tampouco vejo qualquer razão
Na podridão que jaz no mundo,
Nas injustiças como são !
Talvez, por isso, lá no fundo,
Haja mais luta e menos paz ;
Talvez, por isso, os loucos sejam
Os mais comuns entre os mortais.