trégua
dá-me trégua
pois não posso mais brigar
dá-me trégua
minhas crenças
são doenças a se espalhar
por todo por meu corpo,
por toda minha alma
a infectar o silêncio,
as palavras e os gestos.
dá-me trégua,
meus olhos pedintes
são contas secretas de
um colar rompido.
dá-me trégua
hoje não posso falar,
não posso matar minha sede,
não posso ver o sol e
receber essa luz
por viver assim em absoluta
treva.
dá-me trégua,
esqueça-me em algum canto
da casa,
em alguma aresta aberta.
em flanco de guerra.
Deixe-me dormir nas trincheiras
Deixe-me guilhotinar os dépostas e
os loucos.
E, quando cerrar a janela,
terá cessado o estorvo
de estar vivo e
estar aqui.
Dá-me trégua
só tenho pulsos cortados,
sangue roto
e, o rosto molhado
de lágrimas.