CONTORNO
É uma porta cincada - não fecha;
noite anciã que nunca termina
- aragem assaltando a fresta
do tempo que te lancina.
É uma sombra palpável - nunca arrefece;
uma promessa apenas - não se realiza,
luz sonâmbula que despe
a mórbida silhueta de tuas linhas.
É um soluço abrindo-se tardio,
choro preso de mágoas profundas:
pranto contínuo que reverte
ao fogo brando de tuas amarguras,
ao horizonte plúmbeo em que pairas
inerte, sem astrolábio nem bússola:
navio à deriva, fadado ao desmonte
inexorável de negras tessituras.
É uma falsa perspectiva do que seria,
traço lancinante de tua pálida figura:
quadro inacabado de uma antes
nítida, quase perfeita criatura.