Poema De Um Sábio Bêbado
Os goles descem devagar...
O primeiro esquece
Das vagas sentimentais,
Por um...
Por um momento...
Um momento
De sóbria visão,
Não amo nem
A mim mesmo,
Não odeio nem
A mim mesmo...
Invejo...
Invejo os mais bêbados
Do que eu
Por não terem pensamentos
Em seus bêbados delírios...
Não invejo nada...
Estou bêbado
E troco as palavras...
Ciúmes não,
Ciúmes de quê
Se mulher nenhuma
Quer um inútil vagabundo
Como eu aqui
Bebadamente divagando?
Os sóbrios sentem demais,
Não sabem...
Não...
Não sabem vomitar
As imundícies estrangeiras
Em seus Seres
De muitas bebidas estranhas...
Eu sinto o meu vômito...
O meu vômito...
Anti-sentimental vômito
Caindo sobre todos
Os meus solos...
Girando...
Girando o mundo...
E eu aqui
A embebedar-me
E a vomitar
Em minha bela
Mesa de jantar...
GLORIFICO A BEBIDA!
GLORIFICO O ÁLCOOL!
GLORIFICO OS BÊBADOS!
SOBRIEDADE É MORTE!
Os goles descem devagar...
O segundo me leva,
Leva,
Leva,
Leva...
Me leva a uma calçada
Bem suja
Por onde caminham
Supostos limpos cidadãos...
Limpos...
Aqui deitado na calçada
Eu bem vejo a limpeza...
Limpeza...
Ah,
Sóbrios hipócritas,
Sóbrios escarros
De sapato,
De chinelo,
Descalços,
Fardados,
Engravatados,
Rotos,
Rasgados,
Rachados n'alma!
Por que por mim passam,
Riem de mim,
Escarnecem de mim,
Surram-me,
Cospem-me,
Queimam-me
Se as vossas vidas
Cegamente sóbrias
São mais frágeis
Às bebedeiras da vida?
Vocês...
Vocês são...
Vocês são covardes,
Deviam embebedar-se,
Viver um pouco
A doce ardente
Loucura de delirar
Por um delírio
De tantos delírios
Que o próprio Delírio
Instituiído como Princípio
Não suporte
Tão superior esporte!
Bebam...
Bebam do...
Bebam do uísque
Das horas...
Bebam da cachaça
Dos dias...
Bebam do conhaque
Dos anos...
Bebam...
Bebam...
Bebam,
Bons...
Bons sujos limpos...
ODES À BEBIDA!
ODES AO ÁLCOOL!
ODES AOS BÊBADOS!
SOBRIEDADE É MORTE!
Os goles descem devagar...
O terceiro já não...
Já não...
Já não bebo sozinho,
Tenho um irmão
Tão bêbado quanto eu
Fazendo-me boa companhia...
Boa noite,
Lúcifer!
Boa noite,
Pai De Todos Os Bêbados,
Abismos de pesadelos
Que são os melhores sonhos
Que nesta minha
Bêbeda vida pesada
Eu já tive festivamente...
Lúcifer...
Lúcifer...
Lúcifer,
Vossa garrafa é de chamas,
A bebida dela
É um rico misto
De lama...
A lama é...
A lama é...
A lama é
A boa imagem
Da sóbria sociedade,
Célebre pela destreza
De ser tão bêbada
Que cai no esgoto
De seus bons alicerces...
Sociedade é tudo
De maligno,
Lúcifer,
Tu és bom,
Bom,
Bom...
Bebamos essa bebida
Da lama social,
Sintamos nosso vômito
Saindo indômito
E caindo na cara
De todos os
Burgueses de alta classe
Que são lixeiros
De dólares em contas!
Bebamos,
Lúcifer!
Bebamos,
Lúcifer!
Bebamos,
Lúcifer!
Vomitemos ainda
Nos capitalistas!
Vomitemos ainda
Nos socialistas!
Vomitemos em
Todos os políticos!
Ideais são sóbrios...
Nada neles...
Nada...
Nada...
Nada neles pode
Ser saboreado
Como uma bebida...
Ideais são
Paraísos Infernais...
IGREJAS À BEBIDA!
IGREJAS AO ÁLCOOL!
IGREJAS AOS BÊBADOS!
SOBRIEDADE É MORTE!
Os goles descem devagar...
O quarto já é
Em uma praia,
Estou nu
Á beira de um mar
De algum belo lugar,
O qual eu não sei
Se é o de um sonho
Ou realmente
Um real lugar...
Mar...
Mar...
Mar,
Que é...
Que é...
O mar?
O que tu és,
Mar?
Vossa água salgada
É uma bebida sagrada...
Não a bebo...
Não a bebo...
Não a bebo,
O álcool é
A minha onda mais perfeita,
Um maremoto
Assassinando todos os meus
Remotos problemas...
Nado no álcool,
Mais nu do que agora...
No álcool,
Os tubarões são devorados
Por golfinhos...
No álcool,
Meu álcool,
As baleias são expulsas
Por peixinhos...
No álcool,
Meu nadar,
Minhas braçadas.
Fazem-me ir
Até o litoral...
Até o...
Até o...
Até o litoral,
O Último Litoral,
Onde posso deitar-me
Em areias frias
Sob um morno sol,
Sol que é o de um trópico
Que não aquece,
De um trópico
Que apenas possui
A temperatura sã
A temperar
Meus poucos bruscos
Pensamentos sãos...
Meu mar alcóolico...
Meu mar
De ondas minhas
À beira dos meus
Últimos ancoradouros...
A âncora...
A âncora quebrou...
Meu navio afundou,
Afoguei-me bêbado
Em intensas águas,
Estou afundando...
Estou afundando...
Estou...
Estou agarrado
Ao tridente de Poseidon,
Sou O Novo Deus
Dos Sete Mares,
Deus dos meus
Sete bêbados mares...
Sou...
Sou...
Sou um Bêbado Poseidon...
TRONOS À BEBIDA!
TRONOS AO ÁLCOOL!
TRONOS AOS BÊBADOS!
SOBRIEDADE É MORTE!
Os goles descem devagar...
O quinto é dado
Em um boteco ralo,
De bêbados carnavalescos
Comendo as próprias fantasias,
Bailando sambas-enredos
De antigos mais bêbados,
Sambando em notas
De nota dez
Em seus alcóolicos enredos...
Em...
Em...
Em cada...
Em cada bêbada carne
Serpenteiam animais
Que roucamente
São angústias fatais,
Maldições letais,
Desgraças bebidas...
As desgraças
Merecem todos os goles...
As maldições
Merecem todos os mais
Merecidos goles...
As angústias
Merecem todos os mais
Dos mais
Merecidos goles maiores...
Não às punições,
Bebemos porque
Este é o nosso caminho
Para o nosso Céu,
Para o nosso Paraíso,
A nossa oração,
A nossa prece,
A nossa religiosa penitência,
A nossa missa
Rezada todo dia
Que é bêbado domingo
De tarefas vadias!
Beber...
Beber...
Beber todas as bebidas
E tecer todo o mundo
Em bêbados rumos
Nos nossos lábios!
Beber...
Beber...
Beber...
Beber tudo o que podemos
Até onde poderosamente
Encontremos nos últimos
Pingos sagrados das bebidas
Os sustentáculos sagrados
Do nosso rastejar
Nas humanas bebidas
De desumanos porres
Lúcidos de verdades!
Bebida...
Beber...
Bebida...
Beber...
Bebida...
Beber...
Beber tudo...
Bebida toda...
PRÊMIOS À BEBIDA!
PRÊMIOS AO ÁLCOOL!
PRÊMIOS AOS BÊBADOS!
SOBRIEDADE É MORTE!
Os goles descem devagar...
O sexto resgata
Algumas memórias erradas
Dos meus sóbrios erros...
Eu...
Eu estou em
Minha casa?
Eu estou...
Eu estou em
Meu quarto?
Eu...
Eu...
Eu estou em
Uma sala que
Seja minha?
Eu estou tão...
Eu estou...
Eu estou tão bêbado
Que quase penso
Estar me obserarvando
Em meu berço...
Eu,
Um bebê...
Bebê...
Beber...
Bebê,
Bebê,
Bebê!
Por que crescer?
Por que crescer?
Por que crescer
Se eu poderia ter
Morrido ainda bebê?
Cresci!
Cresci!
Cresci para o quê?
Infância nada fecunda...
Adolescência nada amável...
Maturidade toda inerte...
Velhice nada o quê?
Velhice toda o quê?
Memórias erradas
Em mim,
Memórias muito sóbrias
Para mim...
Quero as memórias
Da minha primeira garrafa,
Da minha primeira bebedeira,
Do meu primeiro porre!
Aquela garrafa
Está santificada
Em um altar
Da minha casa!
Aquela bebedeira
Eternamente apegou-se
À minha bêbada alma
De todo gargalo!
Aquele porre
Está declarado
No vômito que guardo
Nos quartos
Das minhas muitas casas!
Bêbado...
Bêbado...
Bêbado...
Bêbado encantador,
Bêbado cantor,
Bêbado não-ator...
Bêbado,
Eu não atuo...
Sóbrio,
Eu interpreto todos
Os mais bonitinhos pápeis...
PALCOS À BEBIDA!
PALCOS AO ÁLCOOL!
PALCOS AOS BÊBADOS!
SOBRIEDADE É MORTE!
Os goles descem devagar...
O sétimo cria
Uma sublime ação...
Ação...
Ação de algo
Por...
Algo...
Algo estranho...
Eu sou arrebatado
Para um verde campo
Tolhido de flores...
Cheiro as flores...
Nada...
Nada me rodeia...
Deito-me na grama,
Longe das flores,
Cambaleando...
Cambaleando...
Cambaleando deito-me
E um céu dourado
Eu vejo...
O céu está ficando
Mais dourado...
Dourado...
O verde...
O verde campo desaparece...
Estou agora em qual campo?
Há uma Voz...
Há uma Voz...
A Voz Que Há
Diz-me para abandonar
A minha amiga bebida,
Minha esposa
De infinito teor alcóolico...
A Voz quer acabar
Com esse meu casamento
Com a formosa bebida...
A Voz quer separar-me
Da amada bebida
Que é a fada
Do fado dos meus sonhos,
Do fato preenchedor
De minha cama...
Eu acho...
Eu...
Eu acho que...
Eu acho que A Voz...
Eu acho que A Voz
É a de Deus...
Bêbado infinitamente
Eu estou,
Imagino alucinado
Ouvir a...
É Ele?
É Ele?
É o Senhor?
É o Senhor?
Se é o Senhor,
Deus,
Por que não aceita
Uma garrafinha de bebida?
Eu tenho uma aqui
Embaixo deste farrapo
Que eu chamo de camisa!
A garrafinha é de...
Que houve?
Que houve?
Que houve?
O dourado se foi...
Eu estou acordando
Em uma rua
Que eu não sei o nome...
Em cima de mim,
Uma garrafa de cachaça vazia...
Como travesseiro,
Sob minha cabeça tonta,
Uma garrafa de cerveja vazia...
Aos meus pés,
Uma garrafa de álcool puro
Vazia...
Que porre!
Que sonho!
Que noite mais boêmia!
Vou para o próximo boteco,
Ainda tenho
Um dinheirinho bom
Para mais bebidas...
Levanto-me!
Limpo-me!
Vou...
O que é essa...
O que...
O que é essa grama
Em minhas mãos?
Eu não sonhei,
Então?
Eu O ouvi,
Então?
Rio!
Rio!
Rio!
Rio Dele!
A Ele ofereci uma bebida!
Ele prefere ser Sóbrio!
Pobre Deus,
Não quer Ser Sábio
E ver o fracasso
De ter criado
A Raça Humana
Que sobriamente fracassa
Bebendo o líquido
Do vômito convencional
De Si mesma!
Pobre Deus Sóbrio!
Rico Bêbado Sou!
Rio Dele!
Rio bêbado Dele!
CÁTEDRAS À BEBIDA!
CÁTEDRAS AO ÁLCOOL!
CÁTEDRAS AOS BÊBADOS!
SOBRIEDADE É MORTE!
Os goles sobem rápido...
Inominável Ser
BEBENDO E VIVO