somente talvez
Talvez eu nunca seja a princesa
Que sonhe com o encantamento
de príncipe
Talvez eu nunca seja a dama
vestida de espartilho e
com doçura dos olhos
E gestos
Talvez eu nunca tenha talento
para sobreviver à eterna
finitude da vida.
Talvez essa porta se abra
E, se abram
também os caminhos,
as estradas.
E, o sol ilumine meu caminho
Com uma tocha
erguida por braços embrutecidos
pela estória ou
pela estiva.
Talvez amanhã quando
surgir no horizonte
a nesga de luz a perfurar
as nuvens,
a irradiar calor e cores
me traga a certeza do paradoxo.
Da dubiedade secreta dos olhares,
da inclinação visceral dos suicidas,
da agressividade das ogivas emocionais,
Talvez perceba afinal, a dinâmica do afeto.
Mas eu, o quero estático,
o quero esculpido,
em cristal líquido.
Dissolvido
por lágrimas invisíveis.
Talvez nas certezas diárias
compostas
de mutações genéticas e metabólicas,
Talvez,
eu descubra a essência imutável,
a tabula rasa,
o cenário fundamental
que infecta
as retinas, os gestos e
os estilos delineados
na arquitetura
dos templos, dos cemitérios,
das escolas
e, da civilização.
Talvez tudo não passe
de hipótese.
O poema é hipótese.
O dilema é hipótese.
Mas o amor é tese.
A solidão é síntese.
A loucura é sintese.
Nos veremos, novamente
na dialética do amanhã.
Na metafísica do horizonte.
No paradigma humano de existir.
Talvez, e somente talvez.