Ignoramus
Sou dos sábios o derradeiro
e dos ignorantes o primeiro.
Em meio erudito
fico algo aflito,
sem ter o que fazer,
nem gostar ou entender.
Me obrigaram na escola
a adiar o jogo de bola
e a fazer todo o dever -
o que custei a desaprender.
Não falo inglês ou francês
mal sei o bom português;
alemão prá mim é grego,
discursar é um desassossego.
Nesse mundo de sabichões
sou o menor dos anões.
Se me chamam de improviso
para falar, logo aviso:
não sou de conversa banal
sou mais chegado ao trivial.
Desconheço a coragem
mas não temo a viagem
por dentro do meu ser
para melhor me conhecer.
Perambulando de pé descalço
por sobre seixos em falso,
meus pensamentos vão voar
com a brisa para qualquer lugar.
Se a chuva se espalha,
isso não me atrapalha;
o sol logo me anima,
aquece e ilumina.
Converso com o vento
que me dá da vida o alento;
as estrelas, amigas do peito,
preciso delas com o jeito
certo para me guiar
e a luz do luar
para me acalmar.
Nada tenho, nada quero
nem favores espero,
somente a companheira
desde a hora primeira.
Devo ser, à vista alheia
um louco de mão-cheia,
um ET de outro planeta
que não serve nem prá estafeta,
mas prego-lhes uma última peta:
sou metido a ser um poeta !
Brasília, 2 de dezembro de 2005