LENTES  DA  POESIA

A poesia anda prosa,
passeando por aí:
leva na mão uma rosa,
sem cansar sempre sorri.
Quando ela passa por mim,
envia um olhar amável,
mas me deixa triste, é sim,
pois não anda confiável.

Não quer saber do soneto,
companheiro de uma vida;
abandonou tal dueto
dessa escolha arrependida.
Dos amores mais antigos,
quase não tem mais lembrança,
encontrou novos amigos;
a ode hoje em dia, dança.

A elegia abandonada
escolheu novos caminhos,
e percorre a nova estrada
esquecida dos carinhos,
que lhe deu por tanto tempo
a formosa redondilha;
vê na trova um contratempo
e segue essa nova trilha...

Diz: “-Renovar é preciso!”
-sai em busca de aventura
“fica” uma noite c’o indriso,
(foi uma festa, loucura!),
embora ame o haikai,
o renga e o tanka ancestrais:
por ser livre, um dia vai
conhecê-los pouco mais.

Mas no momento quer mesmo
poetrix e duplix.
Sem notar, quem sabe, a esmo,
ela acabe num triplix.
Nessa rota vai, concreta,
pensa até no futurismo,
embora aceite, correta,
a amizade do cubismo.

A poesia anda prosa
e eu nesse rumo descambo:
um dia pego essa rosa
e caio num ditirambo...