EU SEMPRE FUI FEIO
Eu Sempre Fui Feio
Eu sempre fui feio
E há uma ciência em ser feio
A sabedoria de se saber feio
É o que refrigera a alma de permeio
E nos põe em contato com o falso-estético
E os conteúdos de se representar, mesmo feio
Uma parcela humana dos excluídos da beleza
Mas, ainda assim, humanizados na preservação.
Sempre fui rodeado de muita gente bonita
Por isso sempre fui mais feio ainda do que já naturalmente era
E bem representado no meio até sacarem nessa esfera
Que eu sendo amigo e companheiro e leal
Não era tão feio finalmente assim
Havia realmente alguma coisa de humano em mim
E isso me tornou um feio simpático, poeta, alto astral.
Com isso de recolher as migalhas de carinhos
O pobre, feio, cara de boi guzerá com amarelão
Era feio mas sempre verdadeiro amigo de prontidão
Pronto para o que viesse ou até o que não viesse
O pobrinho êpa era gente de se confiar
Apesar de seu calcanhar de frigideira
Seu andar-de-segura-peido; sempre um gibi ou livro na mão
Uma idéia na cabeça e um ombro amigo de plantão para chorar.
Por fim, o que era feio era doce e, levou quem trouxe:
Ficou com tantos amigos por atacado
Que embonitou-se, pois a amizade de bom grado
Embeleza todo o entorno, e com o feio sarado
O poeta teve que começar a escrever sobre feiúras
Com a qual estava por dezelo íntimo ricamente acostumado.
Solidões, núcleos de abandonos, injustiças, sinais de pânicos
A feiúra da triste vida urbana, periférica; a miséria, a impunidade
Que alguns amigos bonitos até hoje confessam a contrariedade:
Preferiam quando eu era feio e escrevia romântico e sentimental
Não eu me embonitando para depois fazer dolorosa poesia social.
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Silas Correa Leite
E-mail: poesilas@terra.com.br
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