Saúde de ferro

Saúde de ferro

Vejam todos os presentes

Que pensamentos de horror

Ao passarmos dos setenta

Chegamos à fase do "condor".

Nadando pelo imenso rio

Fugindo do faminto jacaré

Subi no tronco flutuante

Pois estava com dor no pé.

Fugindo doido sem rumo

Fui bicado por um forte galo

Comecei a andar devagar

Caminhando com dor no calo.

Caminhando pelo deserto

No lombo de um alto camelo

Desci da sinuosa corcova

Estava com dor no tornozelo.

Correndo pelo meio do mato

Perseguindo um gordo coelho

Sentei numa pedra lascada

Pois estava com dor no joelho.

Postei-me estático sem piscar

Contemplando o olhar da mocha

Logo tive de abandonar a pausa

Pois estava com dor na coxa.

Estiquei o frágil esqueleto

Ouvindo o canto do periquito

Logo senti a perna dormente

Fiquei com dor no "pirulito".

Levantei-me tendo rasgado

A calça de pele de carneiro

O vento frio que penetrava

Deixou-me com dor no traseiro.

Passei com mais cuidado

A seguir a pequena formiga

Mas logo a deixei sozinha

Gemendo com dor de barriga.

Passei ao largo de um cercado

Onde ciscava uma alegra galinha

Não me atrevi a curvar-me

Podia ficar com dor na espinha.

Vou procurar evitar o mar

O lar natural do tubarão

Pois com toda certeza

Ficarei com dor no pulmão.

Já estava com algum receio

De encontrar ruidoso leão

Pois assim com toda certeza

Eu ficaria com dor no coração.

Resolvi subir numa árvore

Seguindo um peludo macaco

Desisti logo da aventura

Estava com dor no sovaco.

Esbarrei num animal menor

Que identifiquei como anta

Deixei-o sozinho na trilha

Tossi com dor na garganta.

Peguei minha leve câmera

Para filmar uma alegre perdiz

Mas o movimento delicado

Deixou-me com dor no nariz.

Chegando num belo pasto

Passei a fitar uma ovelha

Mas pelo frio que fazia

Fiquei com dor na orelha.

Fui para a beirada da lagoa

Observar a estática perereca

Mas a chuva grossa que descia

Deixou-me com dor na careca.

Andando a passos bem lentos

Ao lado da veloz tartaruga

Por incrível que lhe pareça

Fiquei com dor na verruga.

Até que finalmente esbarrei

Num rosado e gorducho porco

Rapidamente dele me afastei

Pois estava com dor no corpo.

O corte onde jorrou o sangue

Similar ao esguicho da baleia

Me desacordou na relva fria

Acordei com dor na veia.

Já estou fazendo uma prece

Para não encontrar um cachorro

Pois da forma que estou falido

Se isto ocorrer agora, eu morro!

Haroldo
Enviado por Haroldo em 10/12/2005
Código do texto: T83773