O Primeiro Verso a Gente Nunca Esconde (Infelizmente)
Tava ali, com espinha na cara e ego no teto,
um gênio incompreendido... no corpo de um moleque esquisito e quieto.
Ouvi Legião como quem ouve uma voz divina,
e decidi rimar... porque terapia era muito cara pra minha sina.
“Menino doido eloquente” — foi o que saiu.
Um poema? Um rap? Um surto? Ninguém definiu.
Mas ali, entre o toque da campainha e o do recreio,
eu paria minha arte... com um empurrão de devaneio.
Mostrei pra professora, esperando um "muito bom, continue assim!"
Ela me olhou tipo: “hmm... quero que apresente pra turma”
E eu, que só queria um “legal, agora senta”,
me vi no meio da sala, virando meme em câmera lenta.
Tremi mais que wi-fi de escola pública,
minha autoestima virou estatística.
Cada verso que saía era um pedido de socorro com desculpa
e cada olhar alheio veio com um "meu Deus, que pecado!"
Foi lá que descobri que coragem não vem com glória,
e que rima ruim também entra pra história.
Saí da sala com aplausos tímidos,
tipo quando ninguém quer ficar de pé, mas continua rindo.
Naquela escola, poetas eram lendas urbanas,
e rappers? Só os que rimavam no corredor com rimas estranhas.
Eu era só um garoto de caderno rabiscado,
confundindo genialidade com sono acumulado.
Mas olha, naquele caos, teve um brilho torto:
um verso ruim, mas um passo forte e meio morto.
Hoje rio — e muito — dessa estreia sem talento,
mas com mais brilho que filtro em dia de casamento.
Se era rap ou poema? Pouco me importa no fim,
só sei que fui lá e fiz — e isso já me salva de mim.
Porque o mundo é cheio de críticos que nunca escreveram,
e de gênios que só foram gênios porque não perceberam.