A queda
E agora começo minha jornada,
Caindo...
Destino certo: o chão.
As leis me explicam, frias e exatas,
física, química, gravidade.
Vim do barro, do quartzo,
minha essência cristalina e trabalhada.
Coeso, pintado, esculpido,
carrego relevos, histórias gravadas,
essa é minha ciência, minha alquimia.
Continuo caindo, como o mundo ordena,
mais denso que o ar, submetido à gravidade.
Ah, se o tempo me desse clemência,
para cair eternamente, sem fim,
Ou se um vento hercúleo,
milagreiro, me fizesse flutuar.
Quem sabe uma mão me salvasse...
estenderia meu ser, por mais um momento.
Fui mais que um objeto,
tinha um apreço, pura dedicação,
testemunhei risos em festas e celebrações,
amores sussurrados entorno a mim,
segredos revelados ao meu redor.
Levei sabores, banhei-me em fragrâncias,
tinha irmãos, irmãs,
de cores, brilhos, formas sem igual,
todos úteis, uns queridos, outros descartados.
Agora, em direção ao chão,
nada sei, nada posso,
apenas sigo as leis que me criaram e que me cercam.
mas sonho... Ah, se o chão fosse de espuma,
Se me acolhesse com doçura,
se amaciasse o impacto do destino,
preservaria minha beleza,
minha função, minha essência.
Sou fragilidade em forma e presença,
mas também pleno de significado,
mais que barro ou quartzo.
mesmo na queda,
sou prova de que o efêmero carrega histórias.
E tem valor.