Avesso

Pedra que tomba, sou um pouco de sombra, só.

Um caminho desvalido, de pó, pedreira, perdido, o fruto seco que nega.

Um sorriso amargo, falso, o desdém do pobre tolo, o riso do ébrio caído.

E que graça, faço, deixo, se sou o oposto do belo.

A feiúra tão que assusta, ovelha negra do aprisco.

Nasci num dia sem sol, de céu escuro e sombrio.

Chuva fria, nuvem densa, o toco oco que engana.

Ponteiro que mata e acusa, de velhice, relógio quebrado.

Tão porque, sou tanto assim? o inverso do verso, confuso?

Papel que desbota e esconde, um retrato corroído.

A insistência do avesso, nem sei se de fato existo.

Oh, Deus santo dos perfeitos, onde está a forma minha ?

Tú guardastes com carinho? ou queimou a tal receita?

Pedra que tomba...

João Francisco da Cruz