VELHOS DEITADOS

A cegonha existe,

Mas não é quem traz o bebê

A cigana, por sua vez, insiste

Diz que o futuro ela prevê.

A criança não é da cegonha

Nem o futuro é da cigana

A criança nasce risonha

A cigana só engana.

O cabeça do bacalhau ninguém vê

O joelho a freira esconde

O peixe salgado é clichê

Essas coisas vêm de longe.

O bacalhau vive no mar

É servido na semana santa

A madre vive a rezar

Reza sempre antes da janta.

Um gato tem sete vidas

Sete gatos têm vinte e uma

O homem se vai na primeira partida

Vinte e um homens não voltam de forma alguma.

O coletivo de gatos e gataria

Um cesto cheio de felinos

É um balaio de gatos, diria

Bando é o coletivo de meninos.

Água mole em pedra dura

Tanto bate que até acaba

Não há mal que perdura

Nem deserto que se alaga.

A esperança sempre cansa

Por vezes morre na véspera

Gente burra não se amansa

Quem tem pressa não espera.

Quem ri por último é atrasado

Melhor é rir primeiro

Quem nunca comeu melado

Sequer sentiu o cheiro.

Em casa de ferreiro

O espeto é de ferro

Na terra de rei

Quem tem um olho é cego.

Os últimos chegam depois

Os primeiros bem antes

Pulga atrás da orelha incômoda

Imagine dez elefantes.

Quem morre perde a herança

A esperança é um mito

Mas vale um pássaro voando

Que uma nuvem de mosquitos

Eita mundo velho sem ponteiros

Não tenho nada com isso

Relógio que atrasa não adianta

Vingança é um desserviço.

Cachorro que ladra morde forte

O bom cabrito também berra

Todos precisamos de sorte

Viva a paz, abaixo a guerra

A terceira idade é pra valentes

A melhor idade é agora

Cavalo velho se vê nos dentes

Que pena, um dia vamos embora.

Samuel De Leonardo (Tute)
Enviado por Samuel De Leonardo (Tute) em 21/09/2024
Código do texto: T8156261
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