VELHOS DEITADOS
A cegonha existe,
Mas não é quem traz o bebê
A cigana, por sua vez, insiste
Diz que o futuro ela prevê.
A criança não é da cegonha
Nem o futuro é da cigana
A criança nasce risonha
A cigana só engana.
O cabeça do bacalhau ninguém vê
O joelho a freira esconde
O peixe salgado é clichê
Essas coisas vêm de longe.
O bacalhau vive no mar
É servido na semana santa
A madre vive a rezar
Reza sempre antes da janta.
Um gato tem sete vidas
Sete gatos têm vinte e uma
O homem se vai na primeira partida
Vinte e um homens não voltam de forma alguma.
O coletivo de gatos e gataria
Um cesto cheio de felinos
É um balaio de gatos, diria
Bando é o coletivo de meninos.
Água mole em pedra dura
Tanto bate que até acaba
Não há mal que perdura
Nem deserto que se alaga.
A esperança sempre cansa
Por vezes morre na véspera
Gente burra não se amansa
Quem tem pressa não espera.
Quem ri por último é atrasado
Melhor é rir primeiro
Quem nunca comeu melado
Sequer sentiu o cheiro.
Em casa de ferreiro
O espeto é de ferro
Na terra de rei
Quem tem um olho é cego.
Os últimos chegam depois
Os primeiros bem antes
Pulga atrás da orelha incômoda
Imagine dez elefantes.
Quem morre perde a herança
A esperança é um mito
Mas vale um pássaro voando
Que uma nuvem de mosquitos
Eita mundo velho sem ponteiros
Não tenho nada com isso
Relógio que atrasa não adianta
Vingança é um desserviço.
Cachorro que ladra morde forte
O bom cabrito também berra
Todos precisamos de sorte
Viva a paz, abaixo a guerra
A terceira idade é pra valentes
A melhor idade é agora
Cavalo velho se vê nos dentes
Que pena, um dia vamos embora.