CONFISSÃO DE HOSPITAL
Vou contar em poesia
Partes da minha má sorte
Do que eu passei internado
Pela falta de suporte
De hospital em hospital
No sistema estadual
Do Rio Grande do Norte.
Acidentes em Natal
Já são formas de negócios
Três médicos na cirurgia
Trabalhando feito sócios
O que pergunta: - Tem dor?
O que põe o fixador
E um outro que cola os ossos.
Seguindo nesta "pisada"
Só se ouve o chororô
A gritaria ecoando
Descaso em vez de amor
E nesse tal de operando
O médico nem tá ligando
E a gente sentindo dor.
Não se sabe quantas vezes
Se faz uma cirurgia
Bota pino, arrocha placa
Faz enxerto, anestesia
Ficando em dor submerso
Pega acesso, perde acesso
E a gente nessa agonia.
Tem horas que a dor arrocha
Dói que não tem cabimento
Volta pro centro cirúrgico
Pra fazer desbridamento
O interno passando mal
E o Doutor diz: - É normal
Foi só um procedimento.
Eu acho que as cirurgias
São feitas iguais um aborto
Só uma em dez que da certo
E o cabra sai quase morto
Isso é triste de se ver
E ainda tem que agradecer
Se o osso não colar torto.
Quando vai a anestesia
Vem uma dor infernal
Garanto que só morfina
Deixava o cara legal
Mas eles dizem: - "Não fode!"
Que por enquanto só pode
Drogar você com tramal.
Os riscos das cirurgias
Estão acima da matéria
A gente se submete
Todo dia a esta miséria
Com o coração na mão
Sujeito a infecção
E a peste da bactéria.
Todo dia eu peço a Deus
A Santa Rita e a Jesus
Para livrar-me dos males
Que são vistos a olhos nus
Pra que eu não fique lascado
Permanecendo internado
Nas dependências do SUS.
Não fiz pra desanimar
Quem ler este recital
Foi somente um desabafo
Pra melhorar o astral
Também não digo com medo
Que nada disto é segredo
Na saúde nacional.