Na poça da rua o vira-lata lambe a lua
Millôr Fernandes
Millôragem VI
Segue a Lua crescente, quase cheia,
Com o seu colar brilhante reluzente,
A desfilar no céu, suavemente,
Agora, exatamente às dez e meia,
Numa poça de lama em minha frente,
Um cãozinho de rua molha a pata.
Pelo jeito, parece um vira-lata
A procurar,em vão, cachorro quente.
Já quase meia noite bate o sono!
Na rua, só, vagueia o cão sem dono,
Como se fosse o dono dessa rua,
A farejar em busca de comida.
E por não achar nada, toca a vida…
Põe a língua na lama e lambe a lua!