A gente só morre uma vez. Mas é para sempre.
Millôr Fernandes
Millôragem I
Morreu com um caroço de feijão,
Que resolveu voltar para a garganta,
E lá se alojou, depois da janta,
E desceu da traqueia pro pulmão.
Dizem, que logo após a Extrema Unção,
Tossiu e expeliu o tal caroço,
E esticou a veia do pescoço,
E vomitou um quilo de feijão.
O padre interrompeu a oração
E se escondeu atrás do sacristão,
Que se escondeu atrás do coroinha.
Morreu mais uma vez dia seguinte.
E dessa vez, com pompa e requinte,
O padre dispensou a ladainha.