Poema do fantasma
Poema do fantasma (José Carlos de Bom Sucesso)
À meia noite, o fantasma escreveu
E o poeta leu:
“Há tempos morri e fui assassinado
De meu crime, o Judiciário ficou calado.
Deixei na miséria minha família,
Mas o padre rezou para mim, na homilia...
Queria ir direto para o céu,
Porém não tinha o véu...
Vaguei pelo inferno à fora
Porque ainda não chegou minha hora...
Vivo vagando na estrada
Para conversar com algum amigo camarada.
Todos, de mim, têm medo
Que tremem até do pé, o dedo...
Vago pelo cafezal
E me sinto como o pardal,
Que voa de galho em galho.
Assusto o jogador de baralho
Saindo do jogo na madrugada.
Debaixo da árvore, ele faz sua parada...
Assusto o vagueiro
Lá na fazenda do Barreiro...
Olha que fui poeta
Escrevi até para o “Capeta”,
Mas ele não quis ler meu poema
Achando a cultura muito extrema...
Então, vou embora
Para lhe assustar em outra hora.