Os tetrapatas chucros e o novo ovo da serpente
Cabeça de camarão,
pensamento de ameba,
couraça de tatu-peba,
ronco-e-fuça de barrão,
rejeito de assombração,
febre terçã de maleita:
eis a extrema direita,
que ora infesta a nação,
feito rato de porão
em harmonia perfeita.
Um muar que se sujeita
à espora da ditadura
e que cultiva a cultura
do " deixa que agente ajeita".
Além de ter mente estreita
e vício de formação,
tem complexo de pavão,
quando se vê no espelho,
e diz que o mundo é vermelho,
afora do seu portão.
Faz fila pro beija-mão,
no cercado do planalto,
ou pra marchar no asfalto,
por ordem do capitão,
como um fiel pelotão,
a ouvir o próprio grito:
"mito! mito! mito! mito!...
e repetir com afinco:
"o teu olhar AI 5
tá cada vez mais bonito."
"Mito! mito, mito! mito!...
Intervenção militar!
Bota Ustra num altar
a torturar no infinito!
Que Queiroz seja bendito!
Que os 300 do Brasil
ponham balas no fuzil,
abram portas do hospício,
e com fogos de artifício,
toquem fogo no barril!
E a pátria mãe gentil
vai morrendo, dia a dia,
por conta da pandemia,
que se alia ao imbecil,
e a outro do covil,
que diz: o mundo é vermelho,
enquanto ajeita o joelho
para jenuflexão.
Tivesse o diabo culhão,
ele seria o pentelho!
Que ninguém meta o bedelho
nas contas da rachadinha,
ou se convoca a marinha,
se precisar, o conselho,
pra apagar o vermelho,
pintar o verde-amarelo,
destruir foice martelo,
dizimar os comunistas,
as ciências, os artistas...
e o mito ficar mais belo.
E com o poder paralelo
das milícias digitais
e dos servis generais
(de pijama ou de cutelo),
pra fustigar o duelo
entre a arte e a censura,
exterminar a cultura,
pilhar o meio ambiente...
e germinar a semente
plantada na ditadura.
Que a geração futura,
inda que sob tortura,
gore o ovo da serpente!