CHÁ NA ABL
Ontem , eu fui tomar um chá
na academia brasileira de letras
esse lugar que parece ser sagrado
onde todos parecem ter a paciência
de Mahatma Gandhi
e que são imortais como Highlander
Um tal de Merval me recebeu cheio de formalidades :--- Boa tarde , Nereu !
Sinta-se em casa meu nobre!
deguste seu chá , fique a vontade
aproveite , sua estada ...
Agora tenho de ir , eu só vim abrir as portas para você !
agora vou trabalhar na TV !
Fiquei sem entender
ele é escritor ou ator ?
Em vez de chá e uns biscoitinhos de polvilho , eles poderiam fazer
um samba do Cartola , regado com torresmo e cerveja
exaltando a nossa cultura afro-brasileira
isso de chá
cheio de polpa e circunstancia
e coisa de uma Europa colonizadora
isso deve irritar , até o pacífico
Chico Buarque de Holanda
De longe mandei um beijo
para dona Fernanda Montenegro
Daqui pra frente vou deixar
alguns nomes desse encontro , em sigilo.
Eu estava de calça jeans e camiseta
os demais , estavam na mais fina beca
se eles vissem o rasgo da minha cueca .
Um deles me perguntou ?
--- Você escreve tudo errado , vi lá no Recanto , você detona nosso vernáculo !
Suas escritas não têm concordâncias
e , pelo que sei , nunca vi um livro
da sua autoria publicado !
E o bullying continuou na academia .
Um outro foi mais sútil
tinha uma sofisticada arrogância
coisa de gente branca abastada
aliás o Gil era o único negro da rapaziada.
Mandei pra ele um axé
Ele respondeu
de forma educada
E nois na fita , Tu és da quebrada!
Tava num tédio, vi uns velhinhos tomando remédio, lembrei , de ter lido , um artigo do João Ubaldo Ribeiro
falando , do magico azulzinho
que uns velhinhos
tomavam no banheiro.
Ali eu era persona non grata
Ali estava uma nata
cheia de fidalguia
da mais fina poesia
eu não pertencia a essa casta
Eu queria poder encontrar
o Millôr e o Jô
dos céus, eles poderiam descer
pois ali faltavam humor e alegria .
Disfarcei , e , sai de lá sorrateiramente
Ali tava um saco
tudo bem deprimente
Peguei minha bike
Eu pedalava em alta velocidade
eu pedalava
na velocidade de um cometa
Voltei para minha felicidade
Que é escrever no Recanto das Letras