"Jantar à Luz de Velas" = Humor=
Nós dois jantamos à luz de velas
Pois me cortaram a eletricidade
Mas fechamos antes as janelas
Para preservar nossa intimidade
Dividimos uma só latinha de atum
Da boa maionese, a última colher
Coube um pouquinho a cada um
“Tô satisfeito. Você ainda quer?”
“Obrigado, querido. Já tô cheia...”
Meu Deus, quanta elegância
Naquela moça nada, nada feia!
Em quem nada havia de ganância
Dividindo comigo a modesta ceia
“Bebe alguma coisa, menina?”
“Obrigada, Coca me dá gases...
Se tiver, aceito uma Tubaína.”
Tinha. Estava numa das más fases
“Adoro Tubaína com pinga, amor.
É um drinque de sucesso que inventei
Ele dá lá no fiofó um certo ardor
Mas só com um litro me embriaguei
Champanhe é amarga, coisa de rico
Que bebe fingindo que gosta
Eu, que não gosto, até implico:
Como podem gostar dessa bosta?”
Moça fina, elegante, direta e franca
Do jeito que eu cá sempre desejei
Defeito? Um só: dizia que era branca
(Marrom-escuro da memória deletei?)
Higiênica ao extremo, isso lá ela era
Cuidava dos dentes d’um modo infernal
Como se houvesse comido como uma fera
Usou, ainda à mesa, o seu fio-dental
“Odeio gente mal educada, de dente sujo
Que abre a boca e sai aquele fedor
Se quiser trepar comigo, eu até fujo
Escovar os dentes não é nenhum favor...”
Moça fina, elegante, de boas maneiras
Levei pro meu mocó naquela madrugada
Não, ela não era uma qualquer, das rameiras
E me cobrou só “cincão” pela trepada...