O AZARADO

 

Esse baita azar que me ataca,

que toda minha sorte ensaca,

mexe até no ar que respiro.

Pra todo lado só vejo enrosco,

até meus olhos enxergam fosco,

vou voltar ao tempo do papiro.

 

Pois nessa minha urucubaca,

já roubaram até minha vaca,

tanta má sorte que  eu admiro.

A minha casa na lama inunda,

desse jeito minha vida afunda,

só me falta encontrar vampiro.

 

Esse mal que tanto me bate,

quer que eu me desidrate,

já estou quase corcunda.

Sei que meu destino e tirano,

mas faço esforço sobre humano,

pra que deixem a minha cacunda.

 

Parece praga de deusa grega,

o azar de todo o lado chega,

nenhuma sorte me acampa.

Me enrolo no esparadrapo,

me deixa rasgado como um trapo,

estou na beirinha da rampa.

 

Pedirei ajuda pra cigano,

mesmo que levem meu piano,

isso não pode continuar assim.

Não aparece uma boa notícia,

vivo sempre a fugir da polícia,

minha vida e comer capim.

 

Sou ainda bastante moço,

mas minha vida e só caroço,

tudo em minha volta encendeia.

No meu pão não tem manteiga,

acho que vou pra terra galega,

antes que mais azar aqui apeia.

 

Verei  se consigo um engate,

para ver se dou um arremate,

para não engolir mais sapo.

Tentarei ser mais raçudo,

não tendo mais medo de barbudo,

embrulho tudo num guardanapo.

 

Não ficarei preso em samburá,

em mim ninguem vai por jacá,

mas nem que a cabrita tussa.

Essa má sorte tão inimiga,

vai ficar sem sua bixiga,

se tiver, amasso sua fuça.

 

O meu viver não tem pintura,

e minha sorte está escura,

pelo corpo só tenho bolha.

Da aranha arranco a teia,

enterro o azar na areia,

vou armado com sacarrolha.

 

Vou depenar a maritaca,

se não mudar para o Titicaca

ou para a tribo Tibiriçá.

Já que a vida não tem tampa,

tambem posso ir para o pampa,

ou para a serra do Jupiá.

 

Lá onde o rio desemboca,

perto de onde a galinha choca,

lá vai ser minha morada.

Por lá passarei o inverno,

e vá para os quintos do inferno,

essa má sorte desgraçada.