NASREDDIN-HODJA E ZALINA 11/12
NASREDDIN-HODJA E ZALINA XI – 3 JUL 2022
Claro que era uma briga sem motivo,
que aquelas aves nem pretendiam caçar,
mas Zalina insistiu no mesmo crivo:
“O primeiro é meu e não vou te dar!...”
“Não, mulher, serei nisso incisivo,
o primeiro é meu, eu que vou determinar!”
Levaram horas nessa tola discussão,
Há muito os gansos no céu já não estão!
E como a noite já se aproximasse,
a teimosa, ao se ver desapontada,
sem conseguir, por mais que ela berrasse,
pelo marido sua insistência contrariada,
fechou os olhos, como se desmaiasse:
“Já percebi que deixei de ser amada
e se o primeiro não posso hoje obter,
vou me deitar agora até morrer!...
Nasreddin continuou, tranquilamente,
a fumar o seu cachimbo, descansado
e também se foi deitar, eventualmente,
sem pela falsa morta sentir-se perturbado.
Ela passou a noite inteira ali dormente,
porém adormecida, havia respirado;
Nasreddin escutou seu calmo ressonar,
sem a menor intenção de o atrapalhar...
Mas no outro dia, quando foi se levantar,
Zalina estava imóvel novamente,
Sua respiraçãoo de novo a controlar...
Nasreddin observou-a, calmamente.
“Ouve, mulher,” – se decidiu a falar,
“Se tu morreste, eu vou chamar urgente
as tuas vizinhas para o corpo te lavar
e em seguida o teu enterro preparar.”
“O primeiro é meu?” – a teimosa lhe indagou.
“Não, não é!... – lhe respondeu o marido.
“Pois então,” – a obstinada continuou,
“Chama as vizinhas, sem hesitar, querido,
que me lavem e me enterrem!” – lhe afirmou.
“Que vais fazer depois que eu tiver morrido?”
“Ora,” troçou Nasreddin, “vou me casar de novo,
Há muita mulher disponível neste povo!...”
NASREDDIN-HODJA E ZALINA XII – 4 JUL 2022
“Já entendi que não me amas, portanto já morri,
mas não vais achar ninguém melhor que eu!”
“Menos teimosia será a outra que escolhi
e é até capaz de ter um filho meu!...
Quando a cegonha apareceu, bem que eu ouvi:
‘Leva para outra esse nenê, que é teu!’
Se não conhecesse tua teimosia medonha,
teria até chamado de volta essa cegonha!...”
“Mas não adianta discutir, eu já estou morta,
a não ser que o primeiro ganso seja meu!”
“Tua teimosia então não mais importa,
eu não consinto que aquele ganso seja teu!”
Zalina a respiração de novo corta
e Nasreddin ao seu desejo obedeceu:
foi chamar três vizinhas, que a lavaram
e para o sepulcro então a prepararam!
Elas chegaram e a julgando morta,
pois não fazia o menor movimento,
lavaram o corpo da teimos torta
e a vestiram, sem o impedimento.
Nasreddin do mesmo modo se comporta:
“Ora, Zalina, levanta desse assento,
senão vou ter de ir avisar a autoridade
de que te encontras morta de verdade!”
“O primeiro é meu?” – de novo ela indagou.
“Claro que não, larga de ser pretensiosa.”
“Pois então, avisa!” – mas logo se calou,
vendo uma vizinha a trazer pratos, prestimosa
e logo o carpinteiro ali chegou,
para tomar as medidas da asquerosa.
Foi à oficina preparar seu ataúde,
já perto estava o seu destino rude!
Nasreddin novamente lhe falou:
“Levanta de uma vez daí, Zalina,
daqui a pouco o ataúde já chegou!”
“O primeiro é meu?” – com voz bem fina.
“Não, não é! Nessa tolice não pensou?”
Logo o carpinteiro com o caixão se aproximou
e Zalina foi posta ali, amortalhada,
muito quieta continuando ali deitada!