NASREDDIN-HODJA E ZALINA VII/VIII

NASREDDIN-HODJA E ZALINA VII – 29 JUN 2022

“Pois a cegonha ele chamar não conseguiu?

Um milagre que Zalina, infelizmente,

até hoje, por azar, não produziu!...

E foi assim este milagre mais recente,

a coisa mais estranha que se viu!

Às mulheres e animais a cegonha traz presente

de um filho ou de uma cria, porém seu caldeirão

tornou-se quase humano e cumpriu essa missão!”

“Sempre é possível que se tenha enfraquecido,

afinal, por tanto tempo foi deixado

no teu galpão, por ferrugem consumido!

Pois agora, todo polido e bem cuidado,

mostrou ao mundo o poder lá conseguido,

sua humanidade por magia conquistado!”

E assim Pavel, em tal evento trágico

acreditou, julgando fosse mágico!

Nasreddin ficou feliz com a falcatrua:

ficara dono de um belo caldeirão,

só não podia trazê-lo para a rua,

mesmo brilhante de provocar admiração,

porém em Pavel a desconfiança atua

ou em sua mulher, a reclamar da situação,

quando ela mesma quisesse fazer doce,

sem caldeirão que de bom tamanho fosse!

“Que história boba é essa, afinal?

Desde quando pode dar cria um caldeirão?”

“Ora, mulher, não vês nisto um bom sinal

Do encantamento que provocou tal situação?”

“Ora, se o caldeirãozinho que me serve mal,

tivesse nascido por milagre na ocasião,

como é que até hoje não cresceu?

Nosso caldeirão esse turco safado é que escondeu!”

Logo na rua correu um falatório

e Zalina foi forçada a escutar.

“Nasreddin, tu enganaste esse simplório?

A mulher dele anda por aí a reclamar!”

E por temer algo mais condenatório,

Nasreddin com fuligem foi pintar,

por dentro e fora o belo caldeirão

e o devolveu, na maior ostentação!

NASREDDIN-HODJA E ZALINA VIII – 30 JUN 2022

“Pavel, meu amigo, veja só, mais uma vez

realizou um milagre este espantoso caldeirão!

Pois ressuscitou perfeito, como vês,

desceu do céu, como se fosse uma oração!

É realmente encantado, se me crês

e nesta hora vou entregá-lo na tua mão!”

Pavel ficou mais uma vez maravilhado,

mas Nasreddin não havia terminado!

“Mas você sabe, meu amigo, ele falou

que não queria voltar ao seu galpão,

onde ficava abandonado! – se queixou;

e outra coisa pediu-me, de antemão,

que essa cria que ele nos mandou,

devolvesses para mim, meu caro irmão,

que em minha casa será mantido com carinho

e até mesmo irá crescer seu filhotinho!...”

Ficou Pavel sem saber o que dizer:

foi até a cozinha para trocar o caldeirão,

sua mulher a coisa toda logo a perceber.

“Então nos devolveu o espertalhão!

Mas eu não devolvo o pequeno que nos deu,

fico com os dois e que lhe sirva de lição!”

Retornou Pavel com as mãos abanando

e a decisão de sua mulher foi explicando...

Desta vez Nasreddin é que ficou desapontado,

mas quando foi contar à sua Zalina:

“Viste só no que deu, seu desavergonhado!

Mas deixa estar, que eu melhoro a nossa sina!”

Foi conversar com a mulher da casa ao lado

e bem depressa já com ela se combina:

conseguiu que o pequeno ela entregasse

e prometeu emprestar-lhe o grande, quando precisasse!

Envergonhado e pensando em sua pobreza,

pelos impostos que forçado era a pagar,

sentou-se de noite à janela, com tristeza:

De nada adiante ser esperto e trabalhar!

Vem o coletor do Emir, com sua vileza,

tira de mim o quanto pude amealhar!...

Então um homem, bastante mal vestido,

bateu na aldrava da porta com ruído!