Aleatório
Não há mal que traga o bem
Não há bem que traga o mal
Pois em casa de espeto
O ferreiro é que é de pau
Água dura em pedra mole
Quando cai de gole em gole
Faz um buraco no meio
Se Davi não esquivasse
Da lança naquele impasse
Era atingido em cheio
Em cima daquela serra
Tem um pé de qualquer cousa
Adobe pra fazer sala
Cimento pra fazer lousa
Agência de aprendizagem
Escola de pilantragem
Do Centrão, PT, PL
Sindicato dizimista
E salão de esteticista
Para a limpeza de pele
Sansão não sentia bem
No ano-novo judaico
Exigia que o estado
Fosse estritamente laico
Só ficou mais relaxado
Quando então foi sorteado
Com um corte de cabelo
No salão da velha Vila
Era plano de Dalila
Não deixá-lo nenhum pelo
José vendeu dois carneiros
Pra festa de pentecoste
Comprou talit da chanel
E um quipá da lacoste
Quis beber da licoreira
Pôs a mão na algibeira
Não achou um tostão furado
Fez acordo com o copeiro
Que lhe vendeu um isqueiro
E um corote fiado
No sertão do Arizona
Se não me engano agora
Parece que se chamava
De deserto de Sonora
Havia um povo hippie
Que não pegava nem gripe
Por causa de um amuleto
Em uma bolsa de couro
Pé de lebre, flor de louro
Dois garrancho e um graveto.