Retorno a São Carlos: Somnium noctis solstitialis (Canto IX – Conclusão)
“Dark as pitch.”
(Bunyan, THE PILGRIM’S PROGRESS)
Tendo a certeza de que
Tudo permanecia igual,
Minhas caminhadas cessei
Até o dia do Natal.
Ninguém importou-se de chamar-me
Às comemorações,
Portanto o passei a sós
Com minhas elucubrações.
Caíra a noite; não se viam
Quaisquer estrelas no céu.
Nem a Lua aparecera!
Tudo era escuro feito breu!
Com saudades e tristeza
Recordei-me do passado;
Dos festejos que tivera
Com meu mestre adorado
Em sua casa, há tanto tempo –
Quem me dera repeti-los!
T…, I… e (é claro) Nelly;
Queria tanto ouvi-los!
Em vez disso, cá estou
Envolto em trevas literais,
Não bastasse as que trago
No peito – as ESPIRITUAIS!
Mas, refém desta cidade,
Contemplando seus horrores,
Digo: as trevas intelectuais
São ainda piores –
Ilumina a noite o dia;
O espírito recebe a cura
Pelo amor – mas quem vence
A Ignorância mais pura?
Ai de ti, São Carlos! A um negro
Futuro estás fadada;
A luz expulsaste às vaias,
Cidade amaldiçoada!
Não só a tua, mas a minha
Tu fizeste escurecer,
Afogando numa tétrica
Escuridão meu ser!
E mesmo que a ela sucumba
Sozinho não hei de estar,
Pois em meus versos comigo
Haverei de te arrastar!
A ti saúdo, São Carlos!
Terra de meu nascimento,
Sagro-te junto a Florença,
Mântua, Stratford e Sorrento –
Porém, julgando por teu estado,
Não me espantaria
Se teus biltres fama dessem-lhe,
E não minha poesia!
(25 de outubro de 2021)