RELEITURA CÁLICE / Chico Buarque

Pai, afasta de mim esse mesquinho

Pai, afasta de mim esse mesquinho

Pai, afasta de mim esse mesquinho

Lavado na injustiça que o consome

Impossível à paz em mente estragada

Descartar um soldado depois da bela luta

Negando-o seu valor e abraçando cambada

Paz em seus neurônios vive ou está abrupta?

De que lhe vale o poder filho da ingratidão

Melhor seria ser bastardo pra enganação

Sua atitude pequena vira grande bosta

Tanta insensatez preso nessa crosta

Cruciante exalar terrível pecado

Se de tal amizade criou desengano

Como não poetizar contra abandono

É a maneira de sentir-se mais aliviado

Porém toda covardia sua história enoja

Faz eclodir face abjeta daquela corja

Mesmo golpeado sigo impávido

Desse orgulhoso mortal ávido

Pai, afasta de mim esse mesquinho

Pai, afasta de mim esse mesquinho

Pai, afasta de mim esse mesquinho

Lavado na injustiça que o consome

Forte áurea negra naquela vida mais arrasta

De tão pesada sua insensibilidade o basta

Como insuportável pai relevar injustiça

Dos seduzidos por desprezível cobiça

Se descartado vá feliz vivendo

Adiantam eles hoje enriquecendo

Quando o passado diz ambiguidade

De quem foi soldado da sua realidade

Talvez esse desapreço só veja pequeno

E seja o arrependimento não consumado

Querer aceitar debochando próprio pecado

Buscar tudo apagar inalando mesmo veneno

Condicionar perder essa voz da consciência

Mas como camuflar o fato da onisciência

Embriagando-se na omissão do descaso

Iludido mesmo deixando-lhe bem raso

Pai, afasta de mim esse mesquinho

Pai, afasta de mim esse mesquinho

Pai, afasta de mim esse mesquinho

Lavado na injustiça que o consome

FERNANDO ARÁBIA
Enviado por FERNANDO ARÁBIA em 18/08/2021
Reeditado em 15/09/2021
Código do texto: T7323121
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