ÚLTIMA ELEICAO - Luiz Poeta - Luiz Gilberto de Barros Rio de
ÚLTIMA ELEIÇÃO - Luiz Poeta Luiz Gilberto de Barros.
O candidato está feliz: já não precisa
mostrar seu rosto verdadeiro ao eleitor,
nem apertar a sua mão com tanto amor,
nem abraçá-lo... isto lhe dá ojeriza !
Beijar crianças? ...nem pensar !...ele é dos tantos
Com morbidade ( vai que pega a tal covide ? )
E justifica: "Essa doença é um revide
a quem, como eu, engana até os homens santos.
É só dizer que já fui pobre e passei fome,
que o voto é certo ! O pobre adora uma mentira
e eu, catedrático, tenho o eleitor na mira,
é só mostrar, no meu santinho, a foto ou nome...
...e lhe dizer que vou matar a pandemia!
...aglomerar no meu comício, a multidão!
...fazer meu fake e comover o cidadão,
com meu refrão e promover a euforia !
Depois de eleito, faço um trato: dou metade
aos vinte que me ajudaram na campanha,
a outra metade é só parte da barganha:
Isto é antigo, tem bem mais que a minha idade.
E esses tais vão ter, em mão, a minha conta:
e nem precisam trabalhar no gabinete,
mas todo mês vou consultar meu razonete
Quem não pagar, já sabe: o trato se desmonta.
E eu, já eleito, junto os ganhos, na surdina,
os cambalachos e as obras sem concorrência,
e vou guardando, a cada podre flatulência,
do meu mandato,
movido a roubo e propina.
Por outro lado, o eleitor pobre e honesto
...e mais humilde, vê, em Deus, um candidato
que tem seu voto mais correto e mais sensato,
É eu, que não voto, expresso meu manifesto.
Sempre votamos contra alguém, isto é fato,
O artefato do eleitor é a rejeição
contra o santinho que, no fundo é um vilão
que se esconde na ternura de um retrato.
Enfim, ingênuos contumazes, mãos à obra :
votem na cobra mascarada que se enfeita
de candidata boazinha, e se
deleita
depois de eleita, com a grana que lhe sobra.
Cá no meu canto, setentão, já votei tanto,
meu desencanto mostra quanto votei mal,
Sempre escolhendo o candidato ideal,
mais um capeta com sua cara de santo.
O Photoshop faz milagres... tanta arte !
quem paga mais, fica melhor no outdoor
e o eleitor, que fica sempre na pior,
pobre coitado, dessa história, é só um encarte.
Como - confesso - é minha última eleição,
sou cidadão e amo tanto meu país,
que sou capaz de ser, de novo, o bobalhão
que vai fazer mais um vilão ser mais feliz.
... às 10h e 59min do dia 14 de novembro de 2020 do Rio de Janeiro - Registrado no Recanto das Letras.